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CARLOS CORREIA

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O MEU TESTEMUNHO SOBRE A SONAFI

Fui desafiado pelo nosso amigo A. Durval para fazer um testemunho sobre a Sonafi uma vez que tem em ideia de fazer em escrito de um histórico da firma onde trabalhamos cerca de 20 anos.
Achei a ideia interessante e apoiei prometendo descrever, dentro do possível, a minha história na firma. Para isso tenho de recorrer ao meu passado e lembrar que já sou um pouco antigo dado que nasci para lá de metade do século passado.
Não nasci num berço de ouro, mas recordo que naquele tempo, poucas pessoas tinham a quarta classe da instrução primária e quem pudesse dar um curso de serralheiro, eletricista ou desenhador a um filho já era um grande dote.
Por esse motivo comecei a trabalhar aos 14 anos no S.T.C.P. nas oficinas dos autocarros, na Carcereira - Boavista.
A minha indicação na época era saber como trabalhava o motor de uma viatura e saber os seus componentes. 
Pouco tempo depois, talvez um ano, dada a minha capacidade de aprendizagem, era colocado na seção de luxo das oficinas mecânicas, reparação, montagem e afinação de bombas injetoras diesel, utilizadas nos autocarros. À noite estudava na Escola Industrial Infante D. Henrique, para tirar o curso de Serralheiro, que durava cinco anos. 
Aí conheci amigos para a vida, caso do Júlio Barbosa, o Zé Maria dos Estudos, o falecido Octávio Alves da Pintura e outros que não passaram pela Sonafi.
Tive a sorte de apanhar bons mestres dos quais destaco o Eng. Mecânico Siza Vieira, pai do arquiteto com o mesmo nome e que era chefe nas oficinas da C.P. em Campanhã e à noite dava aulas de desenho de máquinas. Não posso também esquecer o Dr. Pedro Homem de Melo, professor de história, o Dr. Eduardo Freire, a matemática e o mestre, Santos das oficinas.
Assim passaram cinco anos quando chegou a altura de ser chamado para cumprir o serviço militar interrompendo uma carreira que estava a calhar muito bem.
Estava em setembro de 1964 e como tinha acabado o curso em junho do mesmo ano, fui para Tavira para o curso de sargentos milicianos como impunha a regra.
Dezassete meses de tropa em várias unidades do continente e finalmente mobilizado para uma comissão em Moçambique, como furriel miliciano durante vinte e seis meses.
Regressado e mobilizado vou novamente para o S.T.C.P. onde vai dar início um curso de cronometristas e agentes de métodos ao qual concorro e pratico durante cerca de dois anos. Aí conheço o amigo Adérito. 
Estávamos no início de 1970. O Sr. Vilarinho, primo do Adérito, e que trabalhava na Sonafi sabia que se ia montar um gabinete de tempos e métodos, por indicação do Sr. Eng. Macedo. Como na Bélgica já existia essa valência, recruta dois elementos: um para os métodos - o Adérito e eu para a chefia do corte de gito (uma vez que o encarregado, Ângelo Santiago, pela idade, estava a meses da reforma). 
Aí na secção de corte de gito, durante cerca de três anos, aconteceu uma revolução em termos de fabrico, com a duplicação de moldes e cortantes dos vários tipos de dobradiças e outras peças. Ganhos de produção fantásticos em que os estudos através do Eng. Leonel Leite amigo do Eng. Vilarinho, derrubaram preconceitos antigos muito enraizados.

                        

                É posto em prática, pela equipa de métodos o Kanban, um sistema que visa aumentar  a  eficiência da produção e otimizar os seus sistemas de movimentação, produção, realização e conclusão de demandas.

                  O Kanban faz parte de uma das técnicas desenvolvidas pelos japoneses da Toyota dentro do modo de produção Just in Time.

                Assim apareceram as caleiras de chapa inclinadas anexadas aos cortantes para separar as peças dos gitos por escorregamento tirando partido da gravidade.    

O Eng. Macedo resolve criar um prémio de produção em dinheiro por isso tem de se ampliar os elementos dos cronometristas e métodos. É nessa ocasião que sou convidado para deixar a chefia do corte de gito, passando para os métodos com melhoria salarial e redução de horário para 45 horas. 
Neste espaço de tempo, meados de 1972, é preciso passar todo o histórico em papel, dos processos de fabrico, para o novo sistema de trabalho em computadores. Tinha entrado a era da informática. A Sonafi, nesta data, tinha nos seus quadros cerca de 500 trabalhadores.
O episódio mais relevante desses tempos foi o desvio de uma boa quantidade de chapas de aço inox de um milímetro de espessura que pôs a cabeça do Alpoim às voltas quando foi questionado sobre o consumo dessas chapas que foram utilizadas no fabrico de panelas de escape de uma grande parte dos trabalhadores que possuíam viatura.
Em 1973, desafiado pelo Firmino Castro, fui para a Sundlete, também para montar um gabinete de métodos e dois anos depois volto para a Sonafi onde me mantive até 1990. Saí nessa data para abraçar a carreira de técnico de vendas de produtos e fornos para tratamento térmico de aços, moldes e cortantes, profissão que desempenhei até me reformar.



 

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